7 de novembro de 2016

Feminismo pela fraqueza

O meu feminismo nunca foi um feminismo pela força. Gosto de todo o discurso do emponderamento, mas sou fatalmente pertencente ao outro lado: Enfraquecimento.

Meu feminismo não é pela desconstrução do romantismo. Pelo contrário: é pela romantização do mundo. É pelo amor sublime que provém das fantasias mais sensíveis da alma. Somente a fantasia de amor eterno sublima-nos deste mundo tão terreno. Desse mundo tão fatal. Tão másculo.

O feminismo não me atraiu pelo direito aos corpos femininos peludos, robustos e poderosos. O feminismo me atraiu pela libertação dos corpos depilados, esguios e frágeis. Pela permissão de errar. Pela permissão de se doer. E chorar. Pelos corações barbudos que choram e se perguntam quem são. E que não choram em silêncio.

É aprisionante ter de chorar em silêncio - oras, todo homem chora. Coração é represa que quanto mais contida, mais ganha força para estourar barragens. Nunca ouvirá de mim um pedido para que pares de chorar. Chore. E assim como canta o Fagner no momento mais escuro daquela noite ébria e solitária: chore "por todos os sentidos".

Permita-se jorrar.

Só a fraqueza é a verdadeira força. A água é a representação mais fiel da força das emoções. Remete ao que há de mais sensível. Parece frágil, mas se está em contato com o fogo, vira vapor. Se entra em contato com a terra, penetra, ou discretamente insiste por milhões de anos até lapidar as inconveniências mais pontiagudas das pedras. Embaixo d'água não é possível respirar: o ar, o raciocínio, a lógica, não sobrevivem onde a emoção deságua. A água que parece frágil, adapta-se a tudo, e nunca é destruída.

Água é substantivo feminino. Feminilize-se.

Jamais ouvirá de mim: aguente firme. Não aguente. Definhe-se até padecer, e só então estará reconstruído. Maternalize-se. Floreie-se. Vulnerabilize-se. Desgaste-se em um pedido de desculpas. Mande áudios para a janela errada. Grite de saudade. Borre a maquiagem. Falhe no discurso. Perca a queda de braço. Recue. Abra mão. Não é preciso sermos tão machos.

Romantize-se.

Pois o verdadeiro "ser" está por trás dessa euforia descontrolada, institucionalizada para se esquecer do gosto de mar que desce aos lábios. "Ser" é oceano.

Quebrante-se.

O mundo exige força demais. Poder demais. Sabedoria. Virilidade. Potência. Uma masculinidade que corrói. Necessidade de vencer sempre, que consome. O ser humano não é o gladiador: é o que resta quando ele se despe da armadura. Do escudo. Da segurança.

Seja nu.

Um comentário:

  1. Meu primeiro comentário é, na verdade, uma pergunta.. onde estão os hiperlinks para curtir e compartilhar????
    Menina você acaba de mudar minha visão sobre o conceito de mulher forte. Agora vejo que ser forte é ser capaz de mostrar suas fraquezas e fragilidades..
    Adorei o blog e fiquei, ainda mais, encantada com essa menina fofa que você é!

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