21 de junho de 2013

Um protesto de aparências

Não fui a um protesto. Fui a um evento social. Estou totalmente desiludida com o que vi hoje em Goiânia. Até hoje a tarde estava absolutamente deslumbrada com o espírito de civismo que finalmente teria dominado  os jovens da geração 2000. Civismo! Luta pela Pátria! Devoção ao interesse público, patriotismo. Hoje até comentei com uns colegas mais cedo: estamos todos tão românticos! - Acho que aí residia um grande perigo e eu não havia notado. Nacionalismo romântico, enfatizar a glória de ser brasileiro - é a hora?! Foi pra isso que fomos às ruas? Festejar?

Não senti Civismo hoje. O que eu senti quando estava lá, no meio do povo, foi uma apavorante falta de foco sobre o que reivindicar. E digo mais - falta de REVOLTA. Quando o protesto era pequeno, ele era mais violento. E, ora, dou razão.   Aqueles que deram início a tudo não tem tempo para palavras e idealizações políticas e nacionalistas. Tem um péssimo terminal de ônibus em condições DESUMANAS à sua espera, para frequentar, todos os dias, isso sim. Ali, nas latas que carregam seres humanos como sardinhas enlatadas, nasceu a ira que deu início a um protesto cheio de ódio pelo preço do Transporte Público.

E essa revolta foi ganhando desenhos, líderes, resultados e evidência. Aos poucos, muita evidência. Daí em diante, conhecemos o caminho - foi ganhando as proporções que vemos hoje. Mas o sentimento de revolta do ponta-pé inicial não ganhou as mesmas proporções. Muitas pessoas que tinham MEDO!, sim, medo daquilo que surgia nos primeiros movimentos, hoje tomaram o movimento como seu. É válido, mudar de ideia é saudável e muito bem vindo - desde que se tome para si o protesto como um todo, e não que se invada com um sentimento mais raso de quem não vive a dor na própria pele ou tem outra bandeira para levantar.

Não vi hoje, ao meu redor, ninguém sinceramente revoltado com a situação do Brasil. Ninguém cantava em coro, não mais que por 1 minuto.  Nenhum grito de guerra ia adiante por muito tempo. Vi gente cantando musiquinhas de festa. Vi gente achando estar num filme nacional do cinema e cantar "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". Não é assim! Estamos indo atrás de coisas sérias, gravíssimas! E as pessoas que estão dando VOLUME a isto tudo estão lá por moda. Sim, estão. Instagram, hasthags, fulano vai por que todo mundo vai. Isso foi evidente, ao menos ao meu redor.

Quando eu estava ainda caminhando para chegar no local, encontramos alguns colegas e perguntamos como estava o clima por lá. Ele disse que tava tudo bem mas ah... começaram a chegar uns pivetes. Fiquei incomodada. Queridos, sem esses "pivetes" nada disso estaria acontecendo. São por esses "pivetes" que você, teoricamente, #foiprarua, e não pra postar a foto no facebook. Você foi a rua pra lutar. Luta se faz com o sangue nos olhos! Esses "pivetes" apanharam da P.M. muito antes de você #irprarua, gritar "sem violência" morrendo de medo de uma bomba. Pegaram o protesto que esses "pivetes" começaram, em que  em nome do incômodo que eles viviam todos os dias - no Eixão, no Terminal da Praça da Bíblia, nas linhas que saiam da Av. Goiás às 18:00 -  resolveram incomodar ruas, clamando para que víssemos a situação em que eles se encontravam.

Faltou lembrar o motivo pelo qual todos ali tinham ido pras ruas. Faltou para muitos, sentir na pele a lotação de um 020 ao meio-dia antes de gritar pela melhoria do transporte, ou sentir a fila de um hospital público antes de gritar pela melhoria deles. Faltou garra, faltou dor, faltou fúria. Não é preciso destruir o patrimônio histórico do Centro de Goiânia, mas é preciso deixar entendido que a vontade é essa, é preciso demonstrar violência ao menos no grito. A quem esse protesto de hoje incomodou? O comércio fechou mais cedo, as linhas de ônibus tiveram alterados os seus trajetos.

Mas o instagram estava lá, bombando com cartazes criativos e rostos bonitos, vestidos de branco pedindo paz, ao som da música do Falcão, chamando o pessoal pra vir pra rua. Só gostaria de lembrá-los que o mesmo Falcão canta, em outra música: "Podem até gritar, gritar, podem até barulho então fazer/ Ninguem vai te escutar se não tem fé".

Não tive a sensação de dever cumprido. O gigante acordou, mas apatia dá sono. Quero o próximo protesto cheio de gente com vontade de mudar - e não de mostrar a vontade pros outros.