15 de abril de 2013

A mudança é um processo lento

Passamos pela primeira impressão de que o mundo tem se tornado um lugar onde, por exemplo, as mulheres estão cada vez mais independentes, ou em que os direitos dos homossexuais tem se consolidado, ou em que os direitos das minorias parecem estar garantidos para a efetivação de um futuro muito próximo. Justamente por isso, há quem acredite que já chegou o momento de parar de insistir nessa questão, que já está batido, que saturou. O ser humano enjoa rápido. É tamanho o bombardeamento de ideias; o raio de alcance das ideias tem crescido tanto, que temos essa visão colorida da realidade.
Repare na internet: tanta gente abraça com fervor as lutas da sociedade pós-moderna! Muito se engana, porém, aquele que vê no sucesso da expansão dessas ideias, dessas imagens, na transformação das leis, uma mudança real no cotidiano.
Assim como uma mudança na língua portuguesa, como a reforma ortográfica, por exemplo, ou a lei 12.605 (que determina que as instituições de ensino públicas e privadas devem expedir diplomas e certificados com a flexão do gênero correspondente ao sexo da pessoa diplomada, ao designar a profissão e o grau obtido) não muda a verdadeira construção da língua que, de fato, é feita pelo povo; conquistas alcançadas ao longo dos últimos anos não mudarão em décadas a tradição conservadora de séculos.
Ora, pois há de se notar que, aparentemente, a valorização da mulher no mercado de trabalho, ou as conquistas homoafetivas, e o alcance do direito de tantas minorias tem levado à revoluções na tradição do Direito Brasileiro.
Mas há de se convir que estes avanços ainda não atingiram o inconsciente da coletividade. São alcances ainda superficiais, já que no início do século XX as convicções ainda eram absolutamente outras.
Logo, apesar da aparência de que as lutas feministas ou os protestos homossexuais, por exemplo, estejam garantindo direitos para efetivação em um futuro muito próximo, cabe perfeitamente ainda tratar destas questões, pois não basta que estes direitos estejam garantidos no papel, ou no facebook, ou na moda da juventude contestadora. A Lei, antes de tudo, tem um fim social, e a finalidade dessas leis em questão é de fato muito impactante, de forma que não mudará uma forma de pensar herdado de séculos atrás. São ideais recentes, precisaremos de muito tempo ainda para que a sociedade enxergue essas leis com a naturalidade necessária para dar-lhes a devida eficácia.
O exemplo fica mais óbvio quando levamos essa visão para o âmbito da sexualidade - tanto para sociedade, como um todo, quanto para a mulher, em especial. Há, no mundo atual, uma extremada liberdade sexual, uma aceitação plena, quando na verdade, no íntimo de cada ser humano e, sobretudo, da mulher, o sexo ainda é rodeado por tabus e repressões sexuais herdadas de um passado patriarcal.
Assim, sejam as "mudanças" na língua, na lei, ou no sexo, enquanto elas ainda carregam resquícios de uma tradição secular, não haverá "mudanças". Há de se persistir em conquista aparentemente garantidas, nesses assuntos repetidos, nessa antiga história, sim, e por muito tempo, até que se dê razão de existir às mudanças fixadas no papel.

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