12 de março de 2013

Arrogância e poder



O curso de Direito acaba reunindo um bom número de personalidades arrogantes e corruptas. Fiquei com medo de entrar nesse meio, por que quando escolhi o vestibular para que prestar, a minha família foi extremamente contra, justamente por que carregam consigo esse pré-conceito de que as pessoas que conhecem as leis acreditam ser as donas do mundo.

De fato. Impossível sair desse meio sem estar contaminado com o espírito de superioridade que paira entre os ares dos juristas. No final desse ´´semestre´´ de 2012 - que foi em 2013 aqui na Federal - conversando com uma professora querida, desabafei que as vezes me sentia mal de conviver no meio de pessoas corruptas, inescrupulosas e asquerosas, por medo de começar a achar que seria normal ser assim. A  professora e eu conversávamos sobre a carreira que eu gostaria de seguir, e para que eu me informasse melhor, me apontou 2 ou 3 colegas com quem eu poderia tirar umas dúvidas sobre tal carreira, e nesse momento me disse ´´Converse com tais pessoas, elas são pessoas boas, vão te ajudar. Acredite, no direito existem pessoas boas´´.

Carreguei isso na minha mente daquele dia até hoje. De fato, notei que há como encontrar pessoas sérias e com princípios até nos meios menos propícios. Me lembrei das amizades que fiz nesse meio e dos tipos de pessoas que conheci. Felizmente se distingue logo cedo quem são os que deixarão o poder subir à cabeça. Uma pena é notar que as pessoas boas nesse ambiente são a exceção. Uma colega até comentou que se sentia lisonjeada por ouvir de alguém que ela nem parecia que fazia direito. Acho que foi um elogio querendo chamá-la de simples, humilde ou extrovertida. Eu também agradeceria.

Foi também um colega que me inspirou a escrever este desabafo. Quando eu entrei na faculdade, a impressão que tive é de que ele era muito competente. Para o nosso pesar, todo aluno que acaba de prestar vestibular para o mega power very hard curso de Direito na Federal é, realmente, competente. E sabe disso. Acaba, então, acreditando que é a última bolacha do pacote. A mãe fez acreditar nisso, o colégio fez acreditar nisso, o ego faz a certeza de que somos isto. O universo esquece apenas de lembrar que não somos nós os únicos competentes do planeta.

Esse colega é o melhor exemplo daquilo que o poder pode fazer com as pessoas. Não é o único. O ego ingênuo de um calouro que acabou de conhecer o mundo do Direito, se continua sendo massageado, é corrompido. Não há nada mais difícil que exercitar a humildade nessa começo da vida de um jurista.

Houve um tempo em que eu até quis escrever a esse colega algumas palavras. Tivemos uns desentendimentos e me senti na obrigação de dizer ´´Cara, você não é melhor que ninguém aqui, tá? Muito menos que alguém lá de fora!´´ Foi uma época em que eu estava de fato assustada. Todos começaram a notar que ele seria capaz de passar em cima de qualquer um - qualquer um mesmo - pra chegar onde quisesse.

Desisti de tentar ajudá-lo com minhas palavras intrometidas. Até por que ele nada mais é do que um reflexo (um pouco concentrado) da personalidade de muitos que entraram nesse curso. Me calei por que percebi que não era pra ele que eu precisava dizer nada. Ele não era o único a passar por cima de qualquer coisa, aqui. Precisava conseguir dizer algo pro ser humano. Meu Deus, como convencer a todo um mundo do Direito de que o conhecimento não o fará melhor que ninguém? De que os escrúpulos não poderão ser deixados de lado? Será mesmo que todas as pessoas boas, dignas, honestas e integras que entrarem no meio jurídico estarão fora do esteriótipo? Será que NÃO ter o rei na barriga vai ser sempre uma exceção?

Do fundo do meu coração, a auto-estima do nosso meio me preocupa. Certa vez li que a arrogância é um caráter da personalidade retamente ligada à baixa auto-estima. Para se sentir bem, a pessoa que não se estima precisa sempre estar pisando nos outros para se sentir superior. Precisa de parâmetros de comparação para lembrar que venceu.

E infelizmente esse tipo de pessoa tem vencido. ´´Um dia pretendo tentar descobrir por que é mais forte quem sabe mentir´´ (e quem sabe enganar, e quem sabe pisar, e corromper, e trapacear, e puxar-saco).

Não gosto de conclusões pessimistas acerca do ser humano. Mas hoje o dia favoreceu que eu pensasse assim. O ego dominou o senso de sociedade. E não, eu não acho pouco.

Um comentário:

  1. Que texto, Mohema! Não poderia concordar mais. A vaidade, infelizmente, tem campo fértil no âmbito jurídico.

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